Celebramos hoje o DIA DA BÍBLIA. A Palavra sempre nos oferece uma luz para as mais diversas situações de nossa vida. Ela pode ser proclamada por quem Deus quer, não é propriedade exclusiva de ninguém.
Na 1ª Leitura, vemos que a Palavra não é Monopólio de ninguém. Deus derramou o seu espírito sobre 70 anciãos, que se puseram logo a profetizar, mas não continuaram. E dois, que não estavam no grupo, começaram a profetizar. Josué vê nisso um abuso intolerável e propõe a Moisés: "Manda que eles se calem". Moisés, pelo contrário, alegra-se com o fato e afirma: "Oxalá todos recebessem o Espírito e profetizassem!" Moisés, longe de ter ciúmes, sente-se feliz em compartilhar com outros sua responsabilidade. O perigo é querer fazer tudo sozinho, ou pior não dar vez a ninguém. Em nossas comunidades, podemos também nos deixar levar pela tentação de Moisés de querer fazer tudo sozinho, ou pelo ciúme de Josué, de impedir o trabalho de quem não for do "grupo". É preciso libertar o Espírito, que atua onde quer e como quer. Está presente em todos os que abrem o coração aos dons de Deus e são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.Não é desejo de Deus reduzir a profecia a certas pessoas.
Na 2ª Leitura, Tiago denuncia o acúmulo de riquezas de alguns, a custo da miséria de muitos. Os ricos, sempre envoltos nas preocupações transitórias do mudo, não querem repartir sua abundância com os necessitados, e isso, na proximidade dos “últimos dias”, causava grande preocupação. Os ricos, muitas vezes, são como cegos: não enxergam a miséria dos pobres, nem os sinais do tempo! Também hoje, muitos cristãos, como no tempo de Jesus, amontoam dinheiro sem escrúpulos, deixando para mais tarde o momento de acertar seu débito com Deus. Mas Deus julga sobre a caridade testemunhada ao mais pobre, aqui e agora.
O Evangelho mostra que ninguém tem o Monopólio de Cristo. Os apóstolos não conseguem expulsar o espírito mudo de uma pessoa. Pelo contrário, uma pessoa "fora" ao grupo consegue, em nome de Jesus. Os Discípulos, aborrecidos, manifestam sua insatisfação. JESUS rejeita o exclusivismo:"Não lhe proíbam... Quem não está contra, está a nosso favor". Não é possível ser neutro diante de Jesus. Se falo dele é porque sou por ele. Há um ministério de Jesus que não é institucional, mas dom do Espírito.
O REINO não pode ser um grupo fechado e fanático, que se arroga a posse exclusiva de Deus e de suas propostas. Deve ser uma comunidade que reconhece não ter o exclusivo do bem e da verdade e se alegra com tantas pessoas, que buscam a Deus com sinceridade, praticam com lealdade o Bem, a Verdade e a Justiça, mesmo sem pertencer ao "nosso" grupo. Deve estar sempre atenta aos sinais dos tempos, para uma perene renovação, guiada pelo Espírito do Senhor.
Em nossas comunidades cristãs, há pessoas capazes de gestos incríveis de doação, de entrega, de serviço; mas há, também, pessoas, preocupadas em proteger o espaço de poder e de prestígio, que conquistaram. São verdadeiros donos do santo e das coisas da comunidade. Essas pessoas são responsáveis de muita gente se afastar da comunidade. Só elas sabem, só elas são capazes, só elas dão o palpite certo. Essa gente não está servindo à comunidade, mas sim a si mesmo, a seu orgulho, a sua vaidade.
Jesus alerta contra as tentativas de monopolizar o seu nome. Esse alerta serve para todos e, em especial, para as lideranças de nossas comunidades. O Evangelho de hoje também nos alerta sobre o domínio que devemos ter sobre a ganância e a cobiça (cortar a mão, o pé, arrancar o olho), ora, cortar a mão e o pé, e arrancar o olho, é romper radicalmente com tudo o que torna a pessoa um tirano, uma pessoa má. Não se trata, pois, de mutilar-se para entrar na vida, mas de eliminar, pela raiz, todos os males que geram discriminação e opressão na sociedade. A Palavra de Deus, neste domingo, nos alerta para a existência de “um cristianismo que transcende” os muros da comunidade eclesial.
Rachel Malavolti